3 de fevereiro de 2011

E nada vai conseguir mudar o que ficou

Ao longo dos anos que nem vi passar, o passar das pernas uma pela outra foi se tornando mais lento. O que era correr. Atrás de mim com um cinto na mão por bater em um primo danado. E daí, se eu era menina? Quando sem cinto, corria pra mandar tomar banho. Corria eu como se houvesse uma boiada no meu encalço. Agora, é de se estranhar passar tanto tempo enrugando embaixo do chuveiro.
Vem, lhe seguro o braço. Não a deixo pra trás.
O mesmo braço que levo, me carregou o corpo todo.
A parte insensata que lhe cabe, de todo ser humano, dá todos os membros, pele e pensamentos. A face sensata cobra tudo que deixou pra trás e acabou se perdendo no tempo. Sim, elas também são humanas. Nem sempre tem sangue de barata.
Não sei, acho que o que ficou pelo caminho, ficou, pela ingênua ilusão de uma gratidão.
Ou pela sensação de dever cumprido.
Quando ninguém mais lava suas roupas, ou põe seu prato.
Sente que o mundo deu mais voltas do que pôde parar e contar.
Estava ocupado demais.

Esse andar mais cadenciado ensina a não passar tão rápido pela vida. Ver um pouco mais de tempo, parar, e conversar com o moço da banca de fruta. Perceber melhor as cores, e formas. Ensinou a ser mais paciente, esperar pelo que, só o tempo pode trazer. De tantos que já passaram pelo seu caminho, aprendeu a saber o tempo de quem vem pelo caminho. Interpretar um sorriso, uma timidez.

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